sábado, 6 de junho de 2009

Esperteza Europeia

Sou defensora acérrima do voto. Tenho para mim que votar é tanto um dever como um direito do cidadão. Só ao exercer esse dever temos direito a reclamar. É a minha opinião, que vale o que vale.

Uma das primeiras coisas que fiz quando atingi a maioridade foi recensear-me. Estava tão orgulhosa por fazer parte dum País e por poder ajudar na escolha dos seus governantes que não me cabia um alfinete no dito.

O meu primeiro acto eleitoral foi um referendo da interrupção voluntária da gravidez. Imaginem-me com 18 anos, ideias frescas, sangue na guelra, com a mania que ía salvar o Mundo (continuo a pensar que sou o Sassá Mutema), a entrar na sala de voto e a empunhar o meu cartão de eleitor como se de uma relíquia se tratasse. Aproximo-me, com ar de pavão, da mesa de voto correspondente ao meu número (a última, refundida lá ao cantinho), entrego a minha relíquia e o meu BI e ouço do outro lado: a menina não pode votar porque ainda não fez 6 meses de recenseamento. Subiram-se-me uns calores por mim acima e um desânimo por mim abaixo. Senti-me a cidadã mais infeliz à face da Terra e só me apeteceu sentar e chorar... ou puxar duma naifa e desatar a espetar povo. Mas não o fiz. Engoli o meu grande sapo, pus um tampão na torneira, guardei a navalha e saí discretamente (deu-se o milagre da transformação: pavão em ratinho).

Desci as escadas a rogar pragas ao responsável pelas regras eleitorais e a escrever mentalmente uma carta dirigida ao Sr PM da altura, Aníbal Cavaco Silva, onde exprimia toda a minha indignação, dado que eu era uma mulher adulta, com 18 anos, sim uns crescidos 18 anos, e estavam a retirar-me um direito que me era inerente. Pertencia-me tanto como a roupa que tinha vestida. E ninguém me tira a roupa (pelo menos sem eu querer).

A sorte do Cavaquinho residiu nos 4 lances de escadas que tive de descer em peregrinação de tal maneira lenta que quando cheguei à rua já pensava mais em praia do que em cartas reclamatórias do tipo vais-cair-em-saco-roto. Se não fosse isso, ele tava bem feito comigo... oh se tava! (Disse-se por aí que ele chegou a transpirar de medo).

E isto tudo para dizer:

Queridos Srs que mandam nesta choça toda das eleições, não são os caros que apelam ao voto? Não são os fofos que alertam para o facto de este ser um dever de cidadania? Sim? Então porque raio me vão meter umas eleições num domingo que antecede uma semana cheia de feriados em que 80% de Portugal pára e vai pá terra, vai pa fora cá dentro ou pa dentro lá fora? Se o povo já é normalmente preguiçoso na demanda das suas obrigações, com este pequeno pormenor tá-me cá a parecer que as europeias vão passar um bocadinho ao largo da costa (da caparica) e isso é coisinha para ser chata.


Ariops, temos uns caturros tão espertos que non s'aguentam....

4 comentários:

GR disse...

Bem vista esta questão da data...
Eu também faço questão de usufruir sempre do meu direito de voto. E mai'nada.

: )

Rapunzel disse...

Concordo em tudo! Esta vai ser a segunda vez na vida que não vou votar e é pelo mesmo motivo! Salvo erro as outras europeias há uns anos atrás tb foi por esta altura..e eu tb estava de férias, fora do Portugalinho!
Enfim...

Rachelet disse...

Votar nem deveria ser uma questão. Quase todos nós temos um pai, avô ou conhecido que penou, lutou e comeu as passinhas do Algarve para que nós pudessemos votar.

Por isso, se vos der a preguiça (domingo de chuva ainda por cima... era ficar na caminha!), pensem que, se não votarem, perdem qualquer direito de reclamar e falar mal quando a pessoa que nos representar na UE fizer asneira. Porque até um voto em branco é uma manifestação de opinião e de um direito que ninguém nos pode roubar.

Kika Canas da Lapa disse...

:)